Palavras que eu sinto, esboços de nudez, de dor e de paixão…São palavras perdidas no perdido fascínio da aventura, palavras que gritam a surda ânsia de saciar uma sede que angustiosamente queima por dentro…Sede de palavra, de um pouco de nada, de um simples Olá que se espera mesmo pelos fios metálicos do telefone. Que loucura, sentir, todos os dias, essa energia enorme de palavras a quererem libertar-se do meu interior.
Ah que vontade de explodir por dentro da fala distante tudo o que se tem para dizer…Fome, sede…Demanda de amor pelo poder da fala por entre a súplica de ouvir. Palavra de desejo tantas vezes morta no seu projecto de nascer. Lá fora a vida continua, a vida não muda, as pessoas fogem delas próprias para mergulharem no vazio de outros corpos, ou então fogem dos corpos que não estão vazios para não se encontrarem a si mesmas. Tantas são as palavras de vazio com que vestimos o espaço de entre nós sem que a palavra, que se espera, mitigue a sede que nos invade. São as palavras vazias do tempo que faz, em vez de palavras do tempo que é…são as palavras de ilusão soltadas no espaço de entre nós, são palavras de vazio a camuflar o desabafo que se espera em forma de um sopro de súplica receosa.
Cá dentro, dentro de um mundo que é só nosso, a música mistura-se com as nossas vozes, com as súplicas e desejos e sonhos! Cá dentro…há um tempo fora de todos os tempos, sem relógios nem minutos, porque cada minuto é um dia e cada dia um mês e é por isso que sentimos que estamos aqui há tanto tempo, como se o tempo fosse outro, e é! Falar! Ah que ditoso bem, que prémio, que riqueza! Falar…é esse saboroso jogo de amor que, na sociabilidade dos iguais na diferença, permuta o eu no tu e o tu no eu sob o lugar descentrado na linguagem. Falar é aceitar a nudez da palavra de súplica e despir também o nosso ser, oferecendo a palavra de compreensão em troca de um poder que, embora fascine, mata a verdadeira dimensão do encontro.
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